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A recém-chegada ministra dos esportes, Ana Mozer, fez um comentário ao UOL sobre a presença dos eSports no plano de governo que envolve bolsas aos atletas. No entanto, a fala teve repercussão negativa da comunidade gamer:
“O esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. ‘Ah, mas o pessoal treina para fazer’. Treina, assim como o artista, assim como a Ivete Sangalo também treina para dar show e ela não é atleta da música. Ela é simplesmente uma artista que trabalha com entretenimento”, pontuou a ministra ao portal UOL. “O jogo eletrônico não é imprevisível. Ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, ela é fechada, ela não é aberta, como o esporte”, argumentou.
Após o comentário da ministra, diversas figuras do eSports se posicionaram a favor, obviamente, das competições gamers serem classificadas como esporte, de fato. Nobru foi um deles, por exemplo:
“Eu acho que fazer a comparação que você fez com uma artista como a Ivete Sangalo, que treina para fazer um show, para justificar que eSports não é esporte só porque um jogador treina é você ignorar todo o processo que a pessoa tem ali de preparo físico e mental para disputar uma competição. Se além de esporte, os games também são entretenimento, é só para mostrar que as pessoas já estão buscando outras coisas além do que os jogos tradicionais podem oferecer. A senhora me desculpe, mas eu acho que a diferença está exatamente no seu desconhecimento desse nosso mercado gigantesco, que movimenta milhões e atrai milhares de pessoas”.
Os campeonatos de CS-GO e League of Legends, por exemplo, somam mais de US $3 milhões, isso sem contar toda a publicidade envolvida nas transmissões em estádios com atmosfera de final de Copa do Mundo. Hoje, a indústria de games já passou a frente do Cinema e TV somados, com US$91 bilhões. Alguns especialistas consideram a fala da Ministra até mesmo como uma certa ingenuidade ou desconhecimento sobre o assunto. Já que o Brasil ocupa o segundo lugar na indústria, apenas atrás dos EUA.
“Um setor como o de games, que tem esse faturamento incrível e a fomentação por parte do público, não pode ser ignorado. É como se você falasse que o xadrez também não é um esporte. Os jogadores são tão pressionados como um atleta de futebol, os times são organizados, existem federações de diversos jogos, campeonatos regionais, nacionais e mundiais. Ainda dá tempo de voltar e corrigir a fala. Já trabalhei com diversos atletas, fiz pesquisas e pude ver como o estado mental é, praticamente, o mesmo. Na verdade, o que muda mesmo é o desgaste físico. Mas a preparação mental e de desempenho são as mesmas”.
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Quem confirma o fato é Lincoln Nunes, preparador mental de alguns dos principais atletas da Seleção, que disputam a Champions League. O psicanalista ainda complementou:
Trabalho com uma fórmula específica para entender os estímulos dos atletas em relação ao estado emocional, I + M + E = R (indivíduo, meio, estímulo e resposta) o único fator que pode ser alterado nesse contexto é o meio. De resto, do jogador da NBA até o profissional de Cod Warzone, o estado emocional e a pressão são os mesmos.
Ainda nisso, falamos com o Neurocientista Fabiano de Abreu Agrela sobre como os games podem ajudar no desenvolvimento da inteligência cognitiva.
“É comprovado que jogadores de videogame desenvolvem a inteligência, por uma ginástica cerebral, o qual é algo orgânico, da mesma forma em que desenvolvemos os músculos em qualquer outro esporte. O treinamento físico dos jogadores também é importante para uma melhor concentração e uso da capacidade cognitiva no jogo, assim como postura física. Entre outras questões que colocam os jogadores de videogame profissionais como esportistas.”
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Enfim, até agora não ocorreram mais manifestações da ministra sobre o tema. Ao contrário da comunidade dos jogos, que debatem o tema com unhas e dentes, ainda no aguardo de um novo posicionamento.
Redação , Observatório de Games.
Fonte: Observatório de Games.
qua, 11 jan 2023 19:07:25 -0300